🤔 🚧 Cidades não gostam de pessoas mais velhas?
Ninguém está preparado para acolher a população que em breve será a maioria. Mas trago boas ideias!
O QUE TEM NESTA EDIÇÃO
🎂 Feliz aniversário, envelheço na cidade
🎵 Repita comigo: pessoas idosas serão maioria. Isso muda tudo!
🏭 Cidade ruim faz mal à saúde, literalmente
🗣️ DIZEM - A atriz Júlia Lemmertz, 62 anos
👋 Oi da semana
👥 Quem somos + O que fazemos
Tá todo mundo preocupado em retocar o botox, ir à musculação, guardar dinheiro para a Prevent Senior e sair de relações tóxicas. Meus parabéns, é por aí mesmo. Mas e se eu disser que a maturidade sã (e salva) talvez envolva uma mudança de cidade?
Com meus 45 anos recém-completados, os paulistanos do Ira que me desculpem, mas não envelheço na cidade. Troco o rock`n roll pela MPB de Elis: eu quero uma casa no campo. Não só uma casa, mas uma cidade age friendly, para usar um termo da Organização Mundial de Saúde.
Pouco se fala disso, até mesmo no ambiente de quem estuda envelhecimento, mas o ONDE importa demais no planejamento da maturidade. Como se sabe, o envelhecimento é um fenômeno bio-psico-sócio-espiritual. Apenas fazer o check-up médico e guardar dinheiro não vai resolver – e me desculpe se eu acabei de desbloquear uma nova preocupação em você. 😬😬😬
O guia da cidade digna para envelhecer
Recentemente foi divulgado o Age-Friendly Communities Handbook (Manual de Comunidades Amigas da Pessoa Idosa), desenvolvido pelo Centre for Ageing Better, no Reino Unido. O material é baseado nas Oito Dimensões das Comunidades Amigas do Idoso da OMS, com estratégias transversais para melhorar habitação, transporte, espaços públicos e participação social das pessoas idosas nos locais onde vivem.






Você chora de ler. Por dois motivos:
1️⃣ O plano é lindo.
2️⃣ Estamos a galáxias de distância de conquistá-lo no Brasil, país onde a velhice é retratada apenas como uma "preocupação" e um "problema” (para a saúde/contas públicas/ para o próprio indivíduo).
Repita comigo: pessoas idosas serão maioria. E isso muda tudo
O documento traz dados acachapantes da realidade britânica, e eu nunca usei a palavra acachapante antes.
🫖 Cerca de 50% das pessoas 65+ enfrentam algum problema assim que põem o pé fora de casa, em geral relacionado ao que se chama de “barreiras ambientais". Vou falar disso já já.
🇬🇧 Entre os ingleses que passaram dos 80 anos, 48% dizem ter dificuldade no trajeto de buscar um pãozinho no supermercado. (A parte do pãozinho é criação minha, no caso deles deve ser um Earl Grey tea).
Os números se referem a um país específico, mas diante do aumento sem precedentes da população idosa global, creio que essa realidade cruze continentes, línguas e culturas. Só vai mudar de endereço.
Atualmente, estima-se que haja cerca de 1,1 bilhão de pessoas com 60 anos ou mais no mundo. Esse número deverá triplicar até 2100, alcançando aproximadamente 3,1 bilhões de pessoas idosas, de acordo com o World Population Prospects 2022 da ONU.
Acostumado a minorizar maiorias, como é feito com as mulheres e com a população negra, o Brasil irá se deparar com uma realidade completamente nova: um país de velhos, não mais de jovens.
Se praticamente ninguém está preparado para isso, por que as ruas, calçadas, parques, estabelecimentos públicos e privados estariam?
Cidade ruim faz mal à saúde, literalmente



Rua esburacada, violenta e poluída faz mal à saúde. Como?
Simples: se vivo em um ambiente hostil, mal conservado, mal iluminado, sem a acessibilidade necessária para minimizar minhas eventuais fragilidades decorrentes da velhice, não vou sair de casa.
Se eu não saio de casa, não tenho vida social. Sem vida social, minha saúde (física e mental, se é que ainda faz sentido essa divisão) fica vulnerável.
Algumas pílulas do material, que ilustram a problemática:
🟧 Ruas e espaços públicos mal conservados e inacessíveis podem aumentar o risco de quedas, levando a lesões e reduzindo a confiança das pessoas para sair de casa.
🟧 A falta de proximidade com áreas verdes, falta de instalações como banheiros e bancos, e falta de espaços que atendam a diversas necessidades impede os idosos de acessar os serviços de que precisam, levar uma vida ativa e manter conexões sociais.
🟧 Experiências de criminalidade e percepções negativas sobre a segurança pessoal podem desencorajar muitas pessoas idosas de se movimentarem livremente em seus bairros.
🟧 Pessoas idosas, assim como crianças, são afetadas de forma mais cruel pela poluição das áreas urbanas e obviamente por condições climáticas extremas. Já abordei esse tema em outras edições e posso retomá-lo outro dia.
3 tópicos para uma cidade menos hostil
Se você tem interesse por esse assunto, eu realmente sugiro que leia a íntegra do documento. Mas se quiser uma leitura rápida, aqui vai um resumão – do jeitinho que a internet gosta.
1. O espaço público precisa ajudar pessoas a sair de casa e se movimentar
Precisa ter:
✅ Bairros caminháveis que incentivam deslocamentos mais ativos.
✅ Banheiros, assentos e abrigos suficientes e adequados.
✅ Calçadas bem conservadas, bem iluminadas e livres de obstruções. Tipo as calçadas aqui de São Paulo (risos).
2. Edifícios e espaços públicos acessíveis e acolhedores
Como?
✅ Espaços atraentes, acolhedores, gratuitos e protegidos de calor, frio, vento e chuva.
✅ Informações nesses espaços públicos amplamente disponíveis e acessíveis, incluindo formatos offline. Não me venham com QR Code!
✅ A acessibilidade e a inclusão devem ser pensadas de forma ampla, incluindo limitações motoras, visuais, auditivas e cognitivas.
✅ Os espaços devem ser protegidos e contribuir para uma sensação de segurança pessoal.
3. Espaços públicos devem ser flexíveis… 🫶🫶🫶
…para atender às necessidades de toda a comunidade, incluindo pessoas de várias idades, origens, culturas e neurodivergentes.
O melhor cenário é o convívio intergeracional: velhos no mesmo espaço dos bebês, dos adolescentes e adultos.
Todo mundo convivendo, aprendendo e praticando a tolerância mútua. Taí o remedinho para combater o etarismo.
Dois cases para inspirar marcas, gestores públicos e #geronters
1. Só vou se tiver lugar pra sentar 🪑
Se com 30 a gente já seleciona o rolê pensando nisso, imagina aos 80.
Quem vive na cidade de Barnsley, no Reino Unido, portanto, já está com a roupa de ir. Batizada de Take a Seat, a iniciativa formada por governo, empresas e grupos comunitários implementou bancos em lugares estratégicos, como ruas comerciais, jardins comunitários e vias de grande movimento.
Para encorajar ainda mais pessoas idosas a saírem de casa, foi criado um diretório mostrando a localização exata desses pontos de descanso. Ou seja: é possível planejar o percurso a partir deles. Mundo, a ideia está pronta. É só copiar!
2. Uma passadinha no banheiro. Ou várias 🚽
Meus professores da Geronto vão me matar se eu explicar desse jeito, mas é basicamente isso: pessoas idosas precisam de banheiros com uma frequência maior. Mil motivos: redução na capacidade da bexiga, enfraquecimento na musculatura do assoalho pélvico e, no caso dos homens, aumento na próstata – tudo isso interfere na frequência de urinar.
Daí que na cidade inglesa de Cardiff foram instalados 160 banheiros públicos, em uma iniciativa que mais uma vez uniu os poderes público e privado. Um dos aspectos do projeto foi a escolha de cores contrastantes que facilitam o reconhecimento dos objetos, de modo a acolher pessoas com demência.
Outro detalhe é que foram escolhidos banheiros do tipo Changing Places: eles podem ser acessados sem o uso das mãos e, assim, proporcionar maior dignidade para pessoas com necessidades fisiológicas e culturais diversas.
As marcas que apoiaram a iniciativa tiveram como contrapartida espaços disponibilizados para publicidade nas instalações. A certeza de haver um banheiro no caminho pode fazer toda a diferença na decisão de sair ou não de casa, ter ou não vida social.
Alô, marcas que precisam de ideias diferentinhas: por que não?
Para terminar, é o que eu sempre digo:
😇 Rampa…
🪜 Corrimão…
🚻 Banheiro…
🪑Lugar para sentar…
🚷 Sinalização fácil de ler…
🔊 Elevador que fala o andar…
🚦 Semáforo com tempo suficiente para atravessar a rua…
(e pode completar a lista)
o-que-é-bom-para-as-pessoas-idosas-é-bom-para-todo mundo
Me conte como tem sido a experiência de envelhecer na sua cidade!
DIZEM
“A finitude do planeta me preocupa mais do que a minha.”
Julia Lemmertz, atriz
Em entrevista à Claudia Online
Foto: Reprodução Instagram/ @arthurhbr | @ga.metzner | @gatufilmes
OI DA SEMANA
Olá!
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Muito obrigada pela confiança!
Boa leitura, faça terapia e beba água.
Mariana Mello
Sobre a autora
Sou Mariana Mello, jornalista especializada em Gerontologia (PUC-SP e Einstein) e idealizadora do Maturidades. Criei e dirijo também a Alma, estúdio de produção de conteúdo e projetos para marcas com ênfase no tema maturidade e envelhecimento.
O que posso fazer pela sua empresa:
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📩 mariana@maturidades.com.br
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Excelente texto!