Você se lembra, quando fez faculdade, de ter aprendido alguma coisa sobre envelhecimento? A pergunta vale para quem é da área da saúde, mas também para engenheiros, administradores, empreendedores e, claro, para meus colegas de comunicação.
Sabia que até mesmo na faculdade de Medicina a disciplina de Geriatria não é obrigatória, de acordo com as Diretrizes Curriculares Nacionais estabelecidas pelo Ministério da Educação (MEC)? Em um curso de enfermagem, por exemplo, das 4.000 horas que compõem a graduação estima-se que disciplinas como Enfermagem Geriátrica”, “Saúde do Adulto e Idoso” e “Cuidado Integral ao Idoso” ocupem de 60 a 180 horas apenas.
Nos cursos de humanidades, como o que eu fiz, nem se toca no assunto. Meu único contato com a velhice na formação em jornalismo foram os professores veteranos, que dividiam com a gente histórias de suas passagens por redações: eram as melhores aulas. Não eram Doutores nem nada. Mas havia um recorte da experiência profissional (e de vida), do “como as coisas funcionam" que título acadêmico nenhum substitui.
Petição solicita o que está na lei: velhice na sala de aula
Em um país que hoje tem 32 milhões de pessoas acima dos 60 anos, segundo o IBGE, delegar o repertório sobre envelhecimento para a mídia e para as redes sociais é uma ignorância anunciada.
Tanto o assunto é relevante que está contemplado no Estatuto da Pessoa Idosa (Lei nº 10.741, de 1º de outubro de 2003), que estabelece os direitos das pessoas com 60 anos ou mais para uma velhice saudável e digna.
Circula uma petição online, liderada por Beltrina Corte, Fundadora e CEO do Portal do Envelhecimento e referência em Gerontologia Social na América Latina, para que se cumpra algo que já está previsto em lei.
No capítulo V, o artigo 22 estabelece: “Nos currículos mínimos dos diversos níveis de ensino formal serão inseridos conteúdos voltados ao processo de envelhecimento, ao respeito e à valorização da pessoa idosa, de forma a eliminar o preconceito e a produzir conhecimentos sobre a matéria.”
Já com mais de 2.000 assinaturas, o requerimento se apoia também no que diz o Plano Nacional de Educação (PNE): 10% dos créditos devem ser dedicados à Extensão em áreas de relevância social. Se o critério é "relevância", convenhamos que não é necessário argumentar nem mais uma linha.
Envelhecimento é um tema transversal, que pega todo mundo, seja na jornada pessoal de vida, seja no trato com pessoas velhas – na família, no trabalho, na sociedade.
Digo mais: o aumento sem precedentes da expectativa de vida é um dado tão significativo, sem exagero, quanto mudanças climáticas em termos de necessidade de respostas urgentes e estruturais.
Existe inclusive um documento sobre isso, o The UN Decade of Healthy Ageing 2021–2030 in a Climate-changing World, da Organização Pan Americana de Saúde, disponível gratuitamente para download.
Por que todo mundo precisa saber de envelhecimento
Well, well, my dear. Primeiro por interesse próprio: todos já somos ou seremos velhos. Como brincou um seguidor meu no TikTok, seremos “semi-novos". Se a gente não quiser sofrer etarismo, a mudança precisa acontecer agora.
Você já parou para pensar em uma coisa? Jovens que hoje compartilham “vídeos divertidos” com pessoas idosas em situações vexatórias/depreciativas talvez já estejam na faculdade. São nossos futuros médicos, dentistas, jornalistas e advogados.
Muitos deles, quer apostar quanto?, filmam seus próprios avós em situações que consideram engraçadas e divulgam nos próprios grupos da família. Acompanho aqui uma lista de perfis nas redes sociais voltados a isso e sempre que posso, me posiciono: não gosto. Mas gosto é gosto.
Além de proteger velhos e futuros velhos do etarismo, o mundo vai precisar de profissionais capacitados: não apenas tecnicamente mas também do ponto de vista ético.Como se sabe, a mudança de perfil demográfico é acompanhada de muitos desafios. São adequações em todos os espaços (físicos e sociais), nos serviços públicos e privados, no mercado de trabalho, na criação de produtos e serviços, na mídia e no universo da educação.
No ano passado ministrei um curso chamado Cultura de Maturidade e a Revolução 60+, na Universidade do Tempo Útil da Universidade Presbiteriana Mackenzie, em São Paulo. O conteúdo unia gerontologia e comunicação, e teve organicamente como público pessoas acima dos 45 anos. Neste semestre optei por aprimorar o conteúdo e estou preparando uma versão online, espero ter notícias em breve por aqui.
Você conhece alguma iniciativa de educação para o envelhecimento?
Me conte, vou adorar saber.
Até a próxima edição e acompanhe meus vídeos nas redes sociais!
DIZEM
“Nao envelheça discreta. Envelheça com diversão, audácia, atitude e uma história eletrizante para contar.”
Kathy Lette
Escritora (@kathy.lette)
Foto: Reprodução Instagram
OI DA SEMANA
Olá,
Nesta semana tive a alegria de receber meu diploma de especialista em Gerontologia, pela Faculdade Israelita Albert Einstein — o braço educacional de uma das maiores instituições de saúde da América Latina. Foram 2 anos de curso e muita, muita dedicação. Já agradeci nas minhas redes sociais, faltava dividir com você, que assina e prestigia esta newsletter. Obrigada!
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Muito obrigada pela confiança!
Boa leitura, faça terapia e beba água.
Mariana Mello
Sobre a autora
Sou Mariana Mello, jornalista especializada em Gerontologia (PUC-SP e Einstein) e idealizadora do Maturidades. Criei e dirijo também a Alma, estúdio de produção de conteúdo e projetos para marcas com ênfase no tema maturidade e envelhecimento.
O que posso fazer pela sua empresa:
- 🧠 Curadoria e produção de conteúdo sobre envelhecimento a partir da nossa capacitação em Gerontologia, Gerontologia Social e comunicação;
- 🗣️ Mediação de paineis em eventos corporativos;
- ☕ Roda de conversa online ou presencial;
- 🧑🏫 Workshop sobre letramento e comunicação sobre cultura de maturidade.
Solicite o portfólio para conhecer meu trabalho!
📩 mariana@maturidades.com.br
Instagram: @maturidades_br
E parabéns pelo diploma!
Oi Mariana, tudo bom? Até há pouco tempo a gente só acompanhava o envelhecimento da sociedade pelas pessoas próximas da gente, no máximo pelos artistas que envelhecem em público. Mas não sao uma vitrine representativa porque é um meio supostamente privilegiado em meios para envelhecer (mesmo sabendo o etarismo entre atores e principalmente atrizes).
Então estamos presenciando a primeira geração a envelhecer em público, nas redes sociais, nos vídeos é na utilização desses meios. Interessante isso que vc falou sobre os vídeos "engracados"partilhados por netos/filhos. Como será que eles vão envelhecer? :-)