Ed. #EXTRA - Oi, sumida + Violência contra pessoas idosas: e eu com isso?
Por Mariana Mello
Olá,
A edição #34 desta newsletter chegará quase 2 meses atrasada, por bons motivos.
Graças a esta produção independente sobre cultura de maturidade, conquistamos novos clientes tanto de criação de conteúdo quanto novas consultorias.
Teve participação também no podcast dos alunos de pós-graduação em Ciências do Envelhecimento na Universidade São Judas.
Fora isso, curso livre no Mackenzie (matrículas abertas) e parceria com uma iniciativa de entretenimento em São Paulo-SP (leia no Linkedin).
Foto no estúdio da Universidade São Judas, em São Paulo, a convite de Edson Moraes, consultor de finanças e planejamento financeiro voltado ao envelhecimento e sócio do Espaço Meio.
Por conta dessa agenda desafiadora, acabei não falando nos meus canais (ainda) sobre a data mais importante do mês: o dia da conscientização sobre a violência contra a pessoa idosa.
Liderada pelo Ministério de Direitos Humanos e Cidadania, da qual faz parte a Secretaria Nacional de Direitos dos Pessoa Idosa, a campanha Junho Violeta tem levado informação sobre o tema em diversos canais.
Por trás dessa iniciativa está o líder da cadeira, o secretário Alexandre da Silva, e sua equipe.
Pequenas violências do dia a dia
A essa altura você já deve ter lido que existem muitos tipos de violência contra pessoas idosas – a física, a psicológica, a patrimonial, a institucional, a negligência e o abandono, para citar algumas.
Há outras atitudes e decisões da sociedade, porém, que entendo também como pequenos atos de violência do cotidiano.
É ruim quando pais pedem ajuda com o celular ou outros aparelhos eletrônicos e seus filhos ficam irritados.
Ou quando familiares decidem mudar pessoas idosas de suas casas sem consultá-las, obrigando-as a deixar para trás suas raízes, suas referências e sua história de vida.
Considero duvidoso um profissional de saúde que, durante uma consulta médica, mal se dirige ao paciente idoso pressupondo que ele não vai escutar ou compreender, voltando a comunicação apenas a seus acompanhantes.
Seria mais amigável e gentil se médicos não usassem o tom prescritivo e por vezes ameaçador em suas recomendações. “Tem que fazer hidroginástica", eles dizem a quem sempre teve pavor de maiô, vestiário e piscina.
Me espanta também notar que um garçom desconhece o fato de que alguns clientes lidam com perda auditiva, e falta com a boa vontade para estabelecer uma comunicação digna e respeitosa com quem só quer pedir uma pizza.
Também entendo como descaso uma sinalização urbana com letras pequenas demais, semáforos de travessia de pedestres adequados apenas para maratonistas, estabelecimentos com acesso por degraus e ausência de lugar para sentar.
Sem contar as instituições financeiras que obrigam clientes a usar tokens e demais ferramentas exclusivamente digitais para acessar e movimentar seus próprios recursos.
Isso para não falar dos atendimentos ao cliente que se dão apenas por chatbots e inteligência artificial nem sempre tão inteligente assim. Alô, bancos e aplicativos, vocês estão considerando pessoas velhas nos seus testes de UX?
É inaquedado tratar pessoas idosas com as quais não se tem intimidade como se fossem crianças valendo-se de termos no diminutivo.
Antes que se alguém diga que falar senhorinha/idosinha/aluninha é uma forma “carinhosa" de tratamento, explico que não. Ao se tratar uma pessoa idosa como criança (não apenas na fala, mas também nas atitudes) desempodera-se esse sujeito.
Para chegarmos a um acordo, proponho o seguinte: vovozinha, só se for a sua. E desde que ela goste de ser chamada assim. Do contrário, é chamar pelo nome, como se faz com qualquer pessoa adulta.
Para encerrar minha breve lista e para você não me achar uma chata, sugiro um olhar crítico diante dos vários perfis em redes sociais que escracham pessoas velhas, expondo-as ao ridículo e reforçando preconceitos.
A imagem do idoso caricato, engraçado ou excêntrico não ajuda em nada a construção social do envelhecimento para a qual precisamos colaborar. Seja crítico. A maioria desses idosos nem sabe que está sendo filmada. No mais, estamos em 2024.
Que a referência da personagem Velha Surda, do programa de tevê A Praça É Nossa, fique no passado como uma página infeliz da nossa história.
Que fique no mesmo baú, se possível, de outras referências preconceituosas a mulheres, pessoas LGBTQIAPN+, pessoas negras e pessoas com deficiência tanto disseminadas no passado em forma do que se propagava como humor.
Cultura de maturidade e envelhecimento
Uma sociedade que respeita pessoas idosas começa dentro de casa, da empresa, da instituição onde se está. Começa na mesa de refeições, na forma como as crianças veem os adultos falando sobre os velhos da própria família.
Ou no debate sobre porque um homem de 77 anos foi morto com uma 'voadora', ao lado do neto, enquanto andava na rua. Começa no trânsito, quando notamos que o condutor do carro à frente é uma pessoa idosa e tem seu próprio ritmo no volante.
A cultura de maturidade parte do entendimento de que, enquanto humanos, todos somos frágeis e dependentes em algum grau.
E que a velhice é simplesmente a fase da vida em que nos aproximamos dessa condição, estando vivos, potentes e desejantes enquanto indivíduos.
Se tudo der certo, todos seremos velhos. É para isso que fazemos check-up, pilates e caminhada. É para a velhice que maneiramos na bebida alcoólica, no açúcar e na picanha. É mirando os 80+ que gastamos uma grana em terapia e colágeno hidrolisado.
O envelhecimento é democrático: vai pegar todo mundo.
Que sociedade você quer encontrar quando chegar a sua vez?
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Mariana Mello é jornalista, estudiosa de Gerontologia (PUC-SP e Einstein) e idealizadora do Maturidades. Criou e dirige também a Alma Content, estúdio de produção de conteúdo e projetos para marcas com ênfase no tema do envelhecimento.
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