😡 'Velho FDP' e 'dá aqui o cartão, vó'. Algo em comum?
Junho tá um fervo. E nem é o quentão da festa. Para começar, temos o mês da conscientização sobre a violência contra a pessoa idosa, iniciativa que tem o respaldo da ONU, da OMS e da Rede Internacional de Prevenção de Abusos contra Idosos.
Viu que o Cristo Redentor ficou roxo anteontem? Foi por isso.
Mais para frente, dia 24, vem o Dia Mundial de Prevenção de Quedas, um assunto tão importante que ganhou visibilidade internacional, também com a chancela da OMS. Gravei um vídeo outro dia sobre isso, com a definição de queda – anatomia de uma queda, tipo o filme – e tá lá no meu Instagram.
[Aliás, esse filme é um escândalo. Assista. No caso não foi queda, mas empurrão, que em francês seria “une chute", e isso me gerou uma confusão semântico-linguística que nada tema ver com o assunto.]
A gente acha que violência contra a pessoa idosa é “““só””” um empurrão no ônibus ou um SEU VELHO FDP no trânsito. Note que a partícula “só” fiz questão de grafar entre muitas aspas. A gente acha também que queda é só aquele escorregão de desenho do Pica Pau, em que a vovó pisa na casca da banana e cai com as pernas pra cima.
É legal que os dois temas, aparentemente desconectados, estejam na mesma agenda. Eles escancaram nosso letramento praticamente nulo, o que dificulta a identificação de situações, de riscos e obviamente a tomada de providências.
7 tipos de violência para não passarmos pano
Apesar do noticiário evidenciar majoritariamente casos de violência física contra pessoas idosas, como o do homem de 62 anos que morreu após levar uma paulada na cabeça no Mato Grosso perpetrada pelo próprio cunhado, existem muitas outras, vamos dizer, modalidades possíveis.
Para quem está com pouco tempo e tem muitos outros emails para ler, aqui vai um parágrafo rápido sobre cada uma delas.
1️⃣ Violência Física
É usar a força para ferir, causar dor ou incapacidade física. Na prática: empurrões, tapas, socos, beliscões, queimaduras, uso inadequado de medicamentos (esse último me assusta e já teve caso na minha família, que é relativamente esclarecida — dizem). Falando em uso de medicamentos, uma amiga psicóloga me contou que uma paciente dopa o marido com Donarem e ele não sabe. Não é idoso, mas você pegou a visão.
2️⃣ Violência Psicológica ou Emocional
Ato que provoca sofrimento psicológico, prejudicando autoestima, autonomia e bem-estar. Na prática: humilhações, ameaças, insultos, desprezo, isolamento, chantagem emocional. Essa é a mais difícil de reconhecer, comprovar e denunciar, porque acontece no seio das relações familiares. Difícil dar palpite.
3️⃣ Violência Moral
Agressão à honra, à dignidade e à reputação da pessoa idosa. Na prática: calúnia, difamação, injúria, acusações falsas, humilhações públicas ou privadas. Aqui entra o "velho filho da puta” do trânsito e congêneres.
4️⃣ Violência Financeira ou Econômica
Uso ou controle indevido dos recursos financeiros ou patrimoniais da pessoa idosa. Na prática: apropriação de dinheiro, bens, cartões, fraudes, exploração financeira. Esse aqui é um clássico. Aquela história de “a vó tá fazendo confusão com o cartão do banco, deixa que agora a gente toma conta dessa parte".
5️⃣ Negligência
Omissão de cuidados básicos, seja por parte de familiares, cuidadores ou instituições. Na prática: falta de alimentação, higiene, medicação, afeto ou acesso a serviços. Viu que eu escrevi a palavra afeto, né? Mesmo que você tenha questões não resolvidas com seus pais idosos, mesmo que na velhice chegue a fatura de relações familiars problemáticas, é obrigação legal cuidar deles. O resto a gente resolve na terapia.
6️⃣ Abandono
Ato de romper vínculos de cuidado e assistência, deixando a pessoa idosa sozinha, sem suporte físico, emocional ou social. Pode ocorrer em casa, hospitais ou instituições.
7️⃣ Violência Sexual
Da série, "o mundo precisa acabar", é qualquer ato sexual sem consentimento ou que utilize a pessoa idoso para fins sexuais, inclusive contato físico, manipulação, exposição ou exploração.
E quem lidera a violência em casa? Quem? Quem?
Tem uma tabela assustadora no site da prefeitura de São Paulo mostrando quem costumam ser os agressores. Os dados são de 2017, mas ainda assim valem. Tá sentadinho? Em primeiro lugar, filhos e filhas.
Olha só:
Números até que recentes do Disque 100 mostraram que a violência contra a pessoa idosa cresceu 22% no Brasil em 2024. Importante dizer que assim como no caso de crianças e mulheres, esse tipo de situação acontece majoritariamente dentro de casa.
Essa tabela me lembrou aquela história do Tio Paulo, o homem idoso que foi levado pela sobrinha a uma agência bancária na tentativa de assinar algum papel importante. Seria um empréstimo? Chegando lá (ou antes) já estava morto. Notícia de novembro de 2024:
A internet não perdoa e isso virou meme, musiquinha, apelido do Joe Biden. Virou tudo menos uma oportunidade de aprendermos algo. Agora pega uma aguinha que vou mudar de assunto.
Você já caiu e não sabe 🤡
Para virar o disco desta edição, utilizando uma expressão bastante semi-nova, vou falar de quedas rapidinho. Primeiramente, fora Temer. Ou melhor, primeiramente, todo mundo vai cair. A questão é quando e onde.
Em segundo lugar, uma queda pode ser o estopim de problemas físicos e psicológicos em uma pessoa idosa.
✔️ Os físicos: tem queda que termina em mesa de cirurgia. Aliás, quedas são o maior motivo de internação de pessoas 60+.
✔️ Os psicológicos: tem queda que se transforma rapidinho em medo de sair de casa, medo de fazer as coisas, afastamento da vida social e todos os efeitos negativos disso.
Existe casa segura contra quedas – já gravei um vídeo com uma especialista sobre ageing in place (envelhecer em casa), tem no Youtube – e quedas podem ser evitadas.
Na semana passada, falei nas minhas redes sociais sobre um botão de emergência que aciona ajuda em caso de quedas, e pode ser usado como colar ou pulseira. Se acontecer alguma coisa, você pede ajuda e eles localizam a sua família, um médico ou até mesmo uma ambulância.
Tem tecnologia avançando horrores nesse sentido, disponível aqui no Brasil.
Lembrando da definição da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia, sua bença:
Queda é o deslocamento não intencional do corpo para um nível inferior à posição inicial, com incapacidade de correção em tempo hábil, determinado por circunstâncias multifatoriais, comprometendo a estabilidade.
Ou seja: se você foi abaixar para pegar o chinelo, ficou meio tonto, desequilibrou e foi amparado pelo sofá, você caiu, my friend.
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Muito obrigada pela confiança!
Boa leitura, faça terapia e beba água.
Sobre a autora
Sou Mariana Mello, jornalista especializada em Gerontologia (PUC-SP e Einstein) e idealizadora do Maturidades. Criei e dirijo também a Alma, estúdio de produção de conteúdo e projetos para marcas com ênfase no tema maturidade e envelhecimento.
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