Ed. #38 | Jovens de 20 e poucos anos: vocês me magoam
Sou uma pessoa que gosta de gente. Eu realmente fico feliz de interagir. Gosto de saber quem é você, o que você faz, em que cidade nasceu, o que pensa da vida. Gosto de abraçar, me considero acessível, prestativa e generosa. Trabalhar em casa, nesse modo quase 100% híbrido, às vezes me deixa triste.
Sinto falta de ver pessoas. Para você ter uma ideia, o dia mais legal da minha semana é segunda-feira, quando dou aulas presencialmente para um grupo de pessoas 40+. Daí que, do jeito que o mundo anda, cada vez mais me sinto desencaixada da realidade.
Trabalho com muitas pessoas, em projetos simultâneos, quase todo mundo remoto. E estou desconfiada que a turma de 20 e poucos anos odeia pessoas. Ninguém quer conversar. Só trocar mensagens. Áudio no WhatsApp? Nem pensar. Até mesmo para falar sobre um projeto, preferem que sejam feitos comentários direto no documento. Abrir câmera na videoconferência ou, Deus me livre, LIGAR? Isso seria um trauma…
Outro dia aconteceu uma coisa que me deixou bem chateada: uma pessoa bem jovem começou a falar comigo por mensagem às 9h da manhã sem dar bom dia. Nem um "Oi, Mari, tudo bem?". Nada. Levei para o pessoal e fiquei magoada – logo eu, que falo e escrevo sobre maturidade.
Poucos dias depois, de novo: um "diálogo" em um aplicativo desses de gestão de projetos. Eram comentários e pedidos de alterações que mais pareciam comandos para um robô de inteligência artificial. Verbos no infinitivo, afirmações, ordens. Nem um "Olha, ficou legal mas acho que se a gente mudar tal coisa fica melhor. Vamos tentar?" Aquela aulinha básica de comunicação não-violenta. Coisa de velho? Talvez. Parece que ser cuidadoso na fala está mesmo em desuso.
O auge, para mim, foi o dia em que topei com um jovem colega de trabalho na fila do cinema. Havíamos "conversado" por mensagem horas antes, sobre uma entrega finalizada. Aliás, dei um gás para conseguir fazer o que havia sido pedido. Ali, no vai e vem de pessoas, ele passou por mim e simplesmente fingiu que não me viu. Que eu saiba, tinha corrido tudo bem no trabalho. Não teve rusga, ranço nem bode. E ele não é míope – caso você tenha levantado essa hipótese.
Fato é: o-colega-não-me-cumprimentou. Sabe o que é pior? Eu re-al-men-te fiquei magoada, de novo. Fui até verificar o calendário para ver se não era TPM. Não era. Será que o problema sou eu? Bem, pelo menos a pessoa vai ao cinema: nem tudo está perdido.
Vamos todos sair perdendo
Como alguém que estuda e se dedica ao tema envelhecimento, sei do quanto as nuances etárias são complexas. Ao mesmo tempo que existem, sim, comportamentos comuns às várias gerações, não se pode generalizar. Aliás, colocar todo mundo no mesmo cesto é a origem do etarismo.
Existe, sim, etarismo reverso: quando os mais velhos se voltam contra os mais novos. Eu só quero entender por qual motivo a interação humana parece se tornar tão difícil para quem nasceu um pouco depois.
Estamos nos confundindo com os aplicativos de mensagens? Temos de ser rápidos como eles? A humanidade realmente acha que uma mensagem de texto fria e distante resolve tudo? Como velha que estou ficando, me preocupo. E lamento.
Em comunicação, o conteúdo corresponde a uma porcentagem muito pequena do todo. Há todo um universo ao redor: o tom da voz, o ritmo da fala, a expressão facial, a pausa e até o silêncio. Do jeito que a coisa anda, é capaz que essas habilidades se percam com o tempo. Será uma pena.
Maturidades na Rádio Cultura de Curitiba
Na semana passada foi ao ar minha entrevista para o Projeto EntreElas, na Rádio Cultura de Curitiba. O papo foi longo, passou por temas como velhices contemporâneas, estereótipos reproduzidos na comunicação, economia prateada e letramento anti-etarismo. Agradeço super à jornalista Patrizia Corsetto pelo convite. Quer ouvir? Só clicar nesse link do Spotify :)
Longevidade Expo+Fórum




Nos dia 1/10, durante a Longevidade Expo+Fórum, tive a honra (e a responsabilidade) de bater um papo com o cineasta Fernando Schultz, que está à frente do documentário Muitos Anos de Vida (lançamento em 2025); com o amigo e parceiro Mórris Litvak, Fundador e CEO da Maturi; e Walter Feldman, Presidente da Longevidade Expo+Fórum e uma das pessoas mais influentes no cenário da longevidade no Brasil. Em uma das várias plenárias simultâneas, falamos sobre finitude e aspectos que estão além das receitas prontas para envelhecer bem. Ano que vem tem mais!
Turmas 2025!!!
Pessoal, estou me planejando para a segunda turma do curso, para 2025. Atualmente, as aulas são presenciais, uma vez por semana, na Universidade do Tempo Útil, no Mackenzie (Campus Higienópolis). Você tem interesse em fazer? Topa ser presencial? Ou prefere online? As vagas são limitadas e estou criando uma lista de pessoas interessadas. Escreva no mariana@maturidades.com.br e deixe seu nome e WhatsApp para eu te contar em primeira mão as novidades! :)
Quem somos
Mariana Mello é jornalista, estudiosa de Gerontologia (PUC-SP e Einstein) e idealizadora do Maturidades. Criou e dirige também a Alma Content, estúdio de produção de conteúdo e projetos para marcas com ênfase no tema do envelhecimento.
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Curso na UATU/Mackenzie: novas turmas em breve!
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